SEM VALOR MAS  COM ELEVADO…  PREÇO

Segundo o insuspeito órgão oficial do regime ditatorial do MPLA, o Jornal de Angola, “o embaixador de Angola no Reino Unido, Grã-Bretanha e Irlanda, Geraldo Nunda, destacou, este sábado, que a visão estratégica de Agostinho Neto continua a guiar a nação angolana para o progresso social e económico”. Bem que Jonas Savimbi tentou ensinar, sem resultado, ao general Geraldo Sachipengo Nunda a diferença entre ter preço e ter valor.

Por Orlando Castro

Ao falar na abertura do Webinar alusivo ao 17 de Setembro, Dia do Herói Nacional (referente ao genocida que mandou assassinar 80 mil angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977), o diplomata do MPLA sublinhou ainda a “incessante insistência de Neto na formação do homem novo”, bem como a necessidade do acesso à educação, a saúde como factores fundamentais para o desenvolvimento do país. “O legado de Agostinho Neto inspira-nos a prosseguir com as suas ideias na actualidade”, ressaltou Geraldo Sachipengo Nunda.

Caro General Geraldo Sachipengo Nunda. Recordando os tempos idos de 1974 e 1975, para já não falar de outros voos anteriores, continuo a ter dúvidas sobre se ainda existe em si alguma coisa dos tempos do Centro Evangélico de Sapessi, município da Nharêa, e também da sua actividade militar e política entre 1974 e 1992.

Será que enquanto Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, ou embaixador do MPLA, se esqueceu da Angola profunda, daquela onde o povo, o seu povo, o nosso povo, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome?

Será que se esqueceu que os seus presidentes (José Eduardo dos Santos e João Lourenço) consideram um crime contra o Estado ter opiniões diferentes das oficiais? Será por isso que tem de ser escravo de barriga cheia? Lembra-se que o Mais Velho dizia que era preferível morrer livre do que viver escravo?

Embora já o devesse ter feito há muito tempo, não será altura de se interrogar das razões que levam a que em Angola uns poucos tenham muitos milhões, e muitos milhões não tenham nada? Ou de se interrogar porque é que, como agora aconteceu (e já tinha acontecido em 2008 e 2012), o MPLA só ganhe devido ao uso dessa arma atómica que dá pelo nome de fraude?

Ainda hoje, bem mais do que ontem, me custa a acreditar que tenha sido sincero quando manifestou a sua satisfação pela morte de Jonas Savimbi (que ajudou a matar). Compreendo que o tenha feito, não fosse o MPLA arrepender-se das mordomias que lhe dera, dá e dará enquanto se mantiver fielmente controlado pelo regime.

Em tempos escrevi que o General Geraldo Sachipengo Nunda estava muito bem onde está, mesmo tendo sempre consigo os louros de ter traído Jonas Savimbi, a UNITA e o povo que ela representava. Quero, contudo, acreditar que estava e estou enganado. Isto porque ainda hoje me custa a acreditar que ao ver o seu, o nosso, povo a caminhar para a escravatura, nada faça.

O regime angolano do MPLA (que tanto venera) é, de facto e de jure, um exemplo de tudo quanto contraria a democracia. Prende e mata inocentes, inventa tentativas de golpe de Estado, ganha eleições graças à fraude, descalça-se para contar até 12 mas confunde os pés. Não deixa, contudo, de satisfazer as verdadeiras democracias para quem é melhor, muito melhor, negociar com ditaduras.

Nunca é exagero perguntar: Em alguma democracia séria, em algum Estado de Direito, se vê o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas dizer, em plena campanha eleitoral, que um dos candidatos – mesmo que seja o actual presidente da República – marcou a sua postura “por momentos de sacrifício e glória”, permitindo “a Angola preservar a independência e soberania nacionais, a consolidação da paz, o aprofundamento da democracia, a unidade e reconciliação entre os angolanos, a reconstrução do país, bem como a estabilidade em África e em particular nas regiões Austral e Central do continente”?

Não. Nas democracias – como o Senhor General sabe – seria impossível o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas ter manifestações públicas deste género, tomando partido por um dos candidatos. Em democracia, os militares são apartidários.

Mas como Angola não é uma democracia, muito menos um Estado de Direito, o Chefe Estado Maior das Forças Armadas, General Geraldo Sachipengo Nunda, fez isso mesmo e de forma pública em 2012, campanha em prol de um dos candidatos, no caso – obviamente – José Eduardo dos Santos.

Embora não vá à missa do general António “Zé” Maria, bem gostava que fosse verdade a tese que ele defendeu, através dos Serviços de Inteligência e Segurança Militar (SISM), de que o General Nunda privilegia a formação e promoção de oficiais provenientes da UNITA, com o suposto objectivo de controlar efectivamente o exército e, desse modo, facilitar a tomada do poder pela via militar.

É claro que os generais “provenientes” (das FALA), como são chamados nas FAA, juram a pés juntos que isso é mentira. E é pena que seja mentira.

Em Junho de 2014, o Maka Angola escrevia: «Na última reunião do Conselho de Estados-Maiores, que decorreu no Comando da Marinha de Guerra de Angola, em Luanda, o conselheiro do CEMGFAA, general Isidro Peregrino Chindondo Wambu, tomou a palavra e manifestou a sua indignação. “Chefe, precisamos de saber se, nas FAA, ainda estamos juntos ou não” – assim intimou Wambu o seu superior, general Nunda. A resposta do general Nunda foi pedir paciência ao seu conselheiro. Nunda falou sobre a gravidade das intrigas que visam a instabilidade política no seio das FAA e referiu-se à ausência, no encontro, dos seus promotores. “O caso já está na mesa do presidente da República”, concluiu o CEMGFAA.»

Dizia ainda o Maka Angola: «Três generais têm merecido atenção especial por parte do SISM, nomeadamente o general Wambu, conselheiro do general Nunda; o general Arlindo Samuel Kapinala “Samy”, presidente da Comissão Superior de Disciplina Militar (CSDM) do EMGFAA; e o general Vasco Mbundi Chimuco, actual conselheiro do comandante do Exército para Obras e Infra-Estruturas do EMGFAA. O general Wambu, antigo chefe da secreta militar da UNITA, integrou as FAA em 1992, ao abrigo dos Acordos de Bicesse. Por sua vez, os generais Samy e Chimuco foram dois dos mais importantes cabos de guerra de Jonas Savimbi, até à sua morte em combate, no Moxico, em 2002. O general Samy desempenhou o cargo de chefe do Estado-Maior Adjunto do Alto Estado Maior General da FALA, ao passo que o general Chimuco foi o comandante da Região Militar 57, no Moxico. Ambos ingressaram nas FAA na sequência dos Acordos do Luena, datados de 2002.»

Pois é Caro General Geraldo Sachipengo Nunda. Recordo-me de, em 1975, Jonas Savimbi me ter dito que “Angola não se define – sente-se”. Curiosamente, lembra-se?, o Senhor General assistiu à conversa. O seu, o nosso, povo não quer que o senhor General o defina, mas tão só que o sinta.

Recorde-se que Geraldo Sachipengo Nunda foi um dos militares que comandaram a caça, e posterior morte em combate, a Jonas Savimbi. Nunda foi, aliás, um dos generais das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola) a quem Savimbi ensinou tudo e que, por um prato de lagostas, o traíram.

Essa é uma enorme espinha que Nunda dificilmente conseguirá tirar da garganta. Acredito que já a tenha tentado tirar, mas sempre que o faz aparece um “escolhido de Deus” a lembrar-lhe o passado.

O general Geraldo Sachipengo Nunda chegou mesmo a dizer que com a promulgação e entrada em vigor da Constituição da República de Angola “o país entrou numa nova etapa histórica do seu desenvolvimento”. Referia-se, recorde-se, à Constituição que aboliu a eleição presidencial.

“A reconstrução nacional tem permitido a normalização da vida em todo o território nacional”, dizia Geraldo Sachipengo Nunda, acrescentando que existem sinais visíveis de um país que renasce após longos anos de guerra.

Que a guerra em Angola, como qualquer outra, deu cabo do país é uma verdade incontestável. Também é verdade que o país está a crescer, embora esse crescimento só esteja a ser feito para um dos lados (para aquele que está com o regime).

Será que Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu que o regime ao qual se vendeu considera um crime contra o Estado ter opiniões diferentes das oficiais? Será por isso que teve de lamber as botas a José Eduardo dos Santos e depois a João Lourenço?

Seja como for, Geraldo Sachipengo Nunda está muito bem onde está e terá sempre consigo os louros de ter traído Jonas Savimbi, a UNITA e o povo que ela representava.

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